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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O grande evento - Por 90 minutos


Sábado, cerca de vinte para as 3 da tarde. O sol e o clima de descontração cercam o acanhado e charmoso estádio do bairro, além, claro, da expectativa de vitória da tradicional equipe, querida por todos, até por aqueles que não gostam de futebol.

O pai leva o filho pela primeira vez ao estádio. E bem a esse, emblemático, do pequeno time para o qual torce há 4 décadas. O guri está animado, extasiado com a situação. Já o pai o contempla, o festeja. Vê no filho sua versão muito melhorada. Médico, imagina o filho também seguindo sua carreira. Mas seja engenheiro, juiz, publicitário, que seja feliz. Ele quer ser astronauta ou jogador de futebol, a priori. Ele será o que quiser. O importante para este pai é conseguir passar a paixão pelo clube ao filho, uma vez que o gosto pelo esporte bretão já foi alcançado. Sem o glamour e os títulos dos grandes rivais locais, a tarefa de convencê-lo é mais árdua. E hoje há também a concorrência de um Milan ou um Barcelona. Mas tem fé que conseguirá. O importante é também que cresça e seja não um homem grande, mas um grande homem. Que goste de ir no campo ver futebol e comer amendoins, mas também de assistir a comédias românticas ao lado de alguém especial. Que xingue a mãe do árbitro até a última geração e possa abrir a porta do carro para uma mulher mais tarde. O time entra em campo... um sorriso e muitos aplausos.

O senhor chega caminhando lentamente pela longa rua que serve ao estádio. Caminha sem auxílio de nada ainda, mas bem devagar. Adentra a sagrada casa em que viu um garoto negro "bom de bola" jogar. Pelé. Já sentado onde senta há 60 anos, vê o campo, as crianças uniformizadas e lembra os áureos tempos dos jogos no estádio. O saudosismo dos belos times, dos belos esquadrões existe, é óbvio. Bate uma tristeza. Ele não está conformado com a velhice e esse novo mundo dos jovens. Pelo contrário, lembrar o faz pensar que ainda é possível que aqueles tempos voltem ou que, a rigor, adapte-se a esse. Não quer, no entanto, sofrer mais com seu time - já sofreu muito e não o fez bem. De qualquer modo, mesmo na maior dificuldade da história do clube, longe das principais divisões e torneios, ele faz questão de apoiar o time. Não há mais futebol romântico na grama do campo, mas há a inspiração e a honra por uma camisa. E isso o leva adiante. O time entra em campo... uma lágrima e muitos aplausos.

A galera chega para mais um jogo no estádio. Eles definitivamente nadam contra a maré. Tem Real na televisão, depois tem o Chelsea. Bobagem, estar lá é o mais importante para eles. São um de muitos grupos semelhantes de caras do bairro. Fogem ainda do costume de ficar atrás do gol. Além de torcerem, gostam de ver o jogo, analisar taticamente. Mais do que isso ainda, é a oportunidade de conversarem, trocarem ideias. Depois de uma infância juntos, a vida, como é natural, levou-os para caminhos distintos. Faculdade, trabalho, vestibular, colégio. Cada uma bifurcação da estrada foi pega, mas todo sábado a tarde é hora dos caminhos voltarem a se cruzar. É a oportunidade de se verem, de manterem a longa amizade. Não é só um jogo, um time, são amigos. O time entra em campo... uma canção e muitos aplausos.

Todas as histórias se convergem lá. As gerações se confundem. Os aplausos formam uma única massa apaixonada. Agora estão unidos pela dor ou pela alegria, pela perseverança, pela paixão, pela vitória. Pai, filho, senhor, galera, todos tem um único objetivo e um único motivo pra sorrir, gritar, xingar ou chorar. O time é a única interseção no caminho deles. É o grande evento. Por 90 minutos, é o mundo, a vida, o coração... o GOOOOOOOOOL!!!


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