No dia 08 de abril de 2011, lembro-me de escrever o primeiro texto do bola pro mato, algo do tipo "(...) nosso querido esporte bretão se tornou, hoje, mais um produto mercantilizado por aí. Este negócio, literalmente falando, pode ser chamado de futebol moderno; nele é tempo dos clubes-empresa, dos contratos milionários, do dinheiro, da visibilidade, do prêmio da FIFA. É tempo de times itinerantes, artificiais, sem torcida, do sentimento vazio ou do não-sentimento. Por outro lado, caminhando bem na via oposta, solitários nas mazelas do business e do just-in-time, sobrevivem casos em que a tradição e a história tentam mostrar que ainda tem o seu valor (...)."
E nada mudou no nosso coração desde aquela sexta-feira nublada. Exatos dez anos depois...
É uma marca especial para um espaço que se iniciou como um passatempo à faculdade, um espaço para delírios. A gente falou de tudo: futebol, arquitetura, cinema, basquete, videogame, música e futebol americano. Passamos pelo auge do barcelonismo e o elevamos à arte de Gaudí. Falamos de Real Madrid sem esquecer do sombrio franquismo que a camisa blanca sempre carregará. Falamos de poesia à raça uruguaia, de um dia pro outro, transitando entre Carlos Drummond de Andrade e Eduardo Galeano. Falamos de Chaplin, em seu filme "The Kid" (1921), numa associação linda ao moleque travesso que nasceria três anos depois: "(...) amor, cumplicidade, humildade e simplicidade são sentimentos mútuos nesta ficção e na nossa vida grená. O Garoto e o Moleque, o Vagabundo e os Vagabundos, todos se confundem mais do que a nossa simples e linda história se permite entender."
Os temas foram variando, assim como a frequência e o tom da palavra. Vivemos nossos altos e baixos ao longo do tempo e fomos colecionando histórias e, principalmente, colecionando pessoas como o bem mais precioso. À querida Família Tonelli, ao meu pai, à turma toda do Atrás do Gol, ao Drogba, ao Celsinho, ao Sergio Agarelli, ao Gian e ao Trita... a lista é infinita e só resta o muito obrigado por cada dia.
E apesar de tantos temas, uma linha mestra - tivemos travessuras por dez incríveis anos, numa montanha-russa de sentimentos. Acessos, descensos, vitórias, tropeços, viagens, lágrimas, suor, xingamentos, ídolos, concreto, sol, chuva, decepções. Um caldeirão do tamanho da Rua Javari para falar do nosso Clube Atlético Juventus.
Desde 2011 falamos: "(...) por ele, e por tantos outros, é que rimos quando ganhamos ou perdemos, é que choramos quando rimos ou perdemos (...)."
E como rimos e choramos. E sorrimos! E sorrimos muito em 2012 quando vimos de muito perto o acesso daquele bravo elenco juventino, comandado pelo Ferreirão; sorrimos, honestamente com maior discrição - em 2015, num acesso em que sentimos o gosto do título e o deixamos escapar.
Porém, o grande fato é que hoje é dia de festa. E mais que festa, é daquelas datas redondas que a gente reflete os últimos dez anos que passaram e pensamos nos próximos dez que virão.
Então, para inaugurar a nova década, nada melhor que pensar: qual foi o time da década juventina? Entre 2011 e 2020, muitos jogadores utilizaram o manto grená em campo, com variado grau de sucesso. Chamamos alguns amigos para votar nesse time e o porquê dos votos teve de tudo: êxito esportivo, relevância técnica, relevância coletiva, longevidade e mística, obviamente.
Por exemplo, para Hamilton Kuniochi, o cara das camisas do Juventus e fundador do Manto Juventino, a base é o time do acesso de 2015, com sete atletas, sendo todo o meio-campo titular: Nunes, Derli, Adiel e Daniel Costa. Pro Luciano e pra turma do Escanteio SP, Rafael Ferro e Sacoman teriam espaço como os líderes que foram em suas gerações, assim como Cesinha seria titular. Para o grande Agarelli, a linha de defesa viria com elementos de 2012, com Tony, Xavier e Pavone; e diferente da maioria que escolheu Alex Alves, Rodrigo Santana foi o professor da década.
Muito outros nomes apareceram, como Fernando Henrique, Thiaguinho, Fubá, Rafael Branco, Dener, Dudu Mineiro, Adilson, Pedro Rocha, Sallinas. Até Geová foi mencionado como o maior dirigente da década! Grande Geová!
O fato final é que as unanimidades em todas as escalações foram André Dias, Lucas Pavone, Derli, Adiel e Daniel Costa. E sobre esses cinco absolutos, que o Bola Pro Mato montou seu 11 ideal:
1 - André Dias; 2 - Tony Maraial; 3 - Fubá; 4 - Maurício Carvalho; e 6 - Lucas Pavone; 5 - Derli, 8 - Saulo; 10 - Adiel; e 7 - Daniel Costa; 9 - Léo Castro e 11 - Pedro Rocha.
Téc.: Luiz Carlos Ferreira
12º jogador: Renato Sorriso.
E da reserva, que quase sempre foi assim, vem o nome da década: Renato do Carmo Ribeiro. Renato Sorriso. O garoto que chegou desconhecido do União São João de Araras em 2012, o garoto de sorriso solto, que foi atormentado por lesões seguidas durante a sua vida profissional. O garoto que se aposentou dos gramados com menos de trinta anos e mesmo assim marcou uma década com a camisa grená. Presente em 2012 e 2015, nos dois acessos. Em ambos, com gols fundamentais, carregando a mística que a gente tanto ama, representando o inexplicável que ronda o cotonifício.
Antes de entrar na partida contra o Guaçuano, válida pela 5ª rodada da 2ª fase da A3/2012, ele tinha 1 gol em 5 partidas disputadas. Apenas um gol antes de enfiar a bola no fundo das redes da creche, fazendo o gol que nos levou vivos à Osasco. E não tinha muito mais antes de marcar o gol do 1x1 contra a Internacional, em Limeira, que permitiu ao time subir na rodada seguinte em 2015.
Renato não jogava muitas partidas, mas foi fundamental para os acessos. Sempre buscando um empate ou a vitória suada. Houve uma quarta-feira, daquelas de Javari quase vazia, que o Juventus brigava para não entrar na zona de rebaixamento da A3/2014. Foi contra o São Carlos de Rodrigo Santana. O time jogou mal demais, mas venceu. Venceu por 1x0, com gol aos 42' da segunda etapa, gol dele.
Algo quase igual aconteceu contra a Ferroviária, em jogo da Copa Paulista. Jogo duro, o time de Araraquara já vinha ganhando força para retornar à elite paulista. O Juventus apenas se defendia contra um satisfeito time até que Romarinho, com um daqueles seus passes mágicos, encontrou Renato e, este, as redes. Podemos falar do tabu quebrado contra o Red Bull, com gol dele; ou do golaço que marcou em São José dos Campos e nos levou à segunda fase na A3/2015. Sabe o porquê dele ser a figura mais importante da década? Porque até hoje, quando o jogo aperta e a gente olha pro banco, alguém fala... "ahh, se o Sorriso estivesse no banco..."
Sorriso representa a essência do que sempre pregamos aqui nos últimos dez anos: resiliência.
Assim como o garoto, o blog persistiu escrevendo e trabalhando independente dos olhares, das visualizações ou do poder que a internet tomou nesses anos. Permaneceu tentando ser um espaço simples, acolhedor, especial para quem chega e lê. Entre invenções e reinvenções, ainda projetamos muiita coisa para acontecer nos próximos dez anos. Mudar de visual, aumentar campos de atuação, temática, agregar pessoas. Sonhos e mais sonhos que o moleque quer e não se acabou!
Tudo pode mudar e evoluir ao longo do tempo e assim sempre esperamos que seja.
Entretanto, jamais mudará o coração tatuado de grená, cicatrizado com um "J" quase que bordado à mão. E aqui não mudou e nem mudará de nome. Sabe por quê? Porque assim podemos isolar a bola pra longe e afastar o risco. É muito legal e bonito ver o time saindo jogando da defesa... mas, rapaz, aqui será sempre bola pro mato!
Espero que estejamos juntos, por mais incontáveis textos, travessuras e sorrisos. ❤
Parabéns!
ResponderExcluirParabéns, Sr. Não é fácil manter, e com qualidade, um projeto paralelo assim por tanto tempo, e em tantos contextos de vida diferentes.
ResponderExcluirDá orgulho de ler cada linha dos seus devaneios amor ❤️ Brilha!
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