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domingo, 29 de março de 2020

EFL Championship | Você vê, mas não observa. A diferença é clara!

A EFL Championship é o segundo nível do futebol inglês, hoje um local longe das grandes e famosas equipes do futebol bretão. Todavia, é considerada - entre muitos especialistas - a liga mais competitiva do planeta bola. Composta por 24 equipes, estas jogam turno e returno num total de 46 partidas cada, representando uma escalada árdua e íngreme demais mesmo aos atletas mais bem preparados. É feita por estádios pequenos, viagens rotineiras desgastantes e torcidas perdidamente apaixonadas por seus clubes. E muitos destes, que hoje buscam o sonho de estar entre os 20 principais clubes da Inglaterra, já foram coroados - em alguma vez na sua história - como o vencedor da First Division (<1992) ou até mesmo da Premier League (>1992), casos de Leeds United, Nottingham Forrest, Derby County e Blackburn Rovers. E, junto a eles na temporada 2020/2021, os Magpies de Nottingham, que jamais venceu uma competição deste porte.


O Notts vinha embalado da campanha dos Invencibles em 2019/2020. Se na temporada passada houve toda a comoção do crownfunding e contratações impactantes, agora no maior desafio da breve passagem de Castro, a intenção era uma aposta na continuidade: entrosamento, seguir com aquilo que deu certo na League One. Com as baixas de 4 aposentadorias (Howard, Jones, Ward e Doyle) e a impossibilidade de manter Abraham - vendido pelo Chelsea ao Newcastle, o treinador apostou em jovens promessas e muitos veteranos: trouxe para a lateral-direita o jovem Aarons, recém-rebaixado com o Norwich, por um preço de oportunidade. E sem custo algum apresentou 3 veteranos imediatamente integrados à equipe titular: o zagueiro Gary Cahill, o lateral-esquerdo Gael Clichy e o meio-campista Cesc Fabregas.

Pode-se dizer que a receita do chef deu muito certo. Variando o esquema tático do velho 4-3-3 para um 4-4-2 em losango, Castro encorpou o meio-de-campo e colocou um ataque de peso: Häland e Nketiah. E numa campanha absolutamente consistente, o County fez 122 pontos (39V | 5E | 2D)  em 46 partidas, terminando a competição 37 pontos à frente do segundo colocado - e também merecedor do acesso - Cardiff City. Além do time galês, o Leeds United conseguiu o acesso após disputa dos play-offs. E se no ano anterior o time tinha sido elogiado tanto por ataque e defesa, agora os patamares haviam chegado a níveis históricos - 112 gols feitos e apenas 10 sofridos. Uma campanha irrepreensível.

Como EFL desde 2004, o maior campeão havia feito 106 pontos nas 46 partidas regulares, com 99 gols marcados. Este foi o Reading de 2005/2006, que teve entre seus grandes nomes Dave Kitson e Kevin Doyle, com 18 gols marcados cada. Igualmente, este Reading (que ergue a taça ao lado) havia colocado a maior distância para o segundo colocado - 16 pontos, à época, do também ascendente Shefield United.

Ainda nos dados históricos da EFL, o maior artilheiro isolado de sua história é Gleen Murray, que jogara a temporada 2012/2013 pelo Crystal Palace. Corrigindo, era artilheiro isolado. Murray a partir desta temporada tem ao seu lado Eddie Nketiah, que igualou 30 gols em uma única edição e, logo, se tornou o chuteira de ouro da Championship na temporada dentro dos seus 40 jogos disputados. Häland, seu companheiro de ataque, chegou muito perto, com 29 tentos. A dupla magpie ainda teve 29 assistências somadas, muitas delas entre si, sendo 14 para a revelação norueguesa.

O time-base, do terceiro e brilhante ano de Castro no comando, teve: Schofield; Max Aarons, Bird, Cahill e Clichy; Rose, James, Fabregas e Saka; Häland e Nketiah.

Mas agora, o que tudo isso tem a ver com a frase do título do texto? Explico... ela é conferida ao fictício investigador Sherlock Holmes, personagem de Sir Arthur Conan Doyle - e explica nosso jogador de hoje...

Mas quem é Schofield?

Desde o início dos trabalhos de Castro, contratar um goleiro nunca fora sua maior preocupação - e esse fato sempre foi questionado pela mídia local. Aparentemente, ele enxergava algo que ninguém mais enxergava. E provou, muito, que estava certo. E o acerto tinha nome: Ryan. E sobrenome: Schofield. Logo em seu primeiro ano na equipe, Castro aproximou-se por conversas e trouxe um velho amigo, o norte-americano Tim Howard. Capitão do primeiro acesso desta jornada, ele fez 43 jogos no ano - enquanto o jovem Ryan fizera 12. Já na League One, o papel se invertera e Howard mostrou a que veio realmente: ser um mentor para Schofield. E, assim, a proporção de jogos virou para 19 a 37, ficando o jovem inglês com quase o dobro de jogos na temporada de aposentadoria de Tim.

Até então, Schofield era conhecido mundialmente por um jogo em que tomou um gol, digamos, bizarro: leia no espetacular site trivela (acesse o link!)

Mas desde a chegada de Castro, a confiança apenas ascendeu. O jovem, que sempre pertenceu a Huddersfield Town, teve apenas uma oportunidade em seu time de criação e viveu a breve carreira em empréstimos: FC United, Telford, Notts e Livingston. Contratado em definitivo, Castro explica o que pensara: "Ryan teve passagens pelas seleções sub-18, sub-19 e sub-20 da Inglaterra. Ele tinha rodagem dentro de elencos acirrados - como do próprio Huddersfield e dentro do melhor selecionado local na idade dele. Ryan foi titular no triunfo inglês de Toulon em 2017, eu sabia o que estava fazendo. Ele só provou ao mundo que é muito maior que um erro que todos apontam e ao qual resumem sua carreira. Você vê, mas não observa. Teve Tim (Howard) ao seu lado por 2 anos e agora teve o Ben (Foster), dois ícones da primeira divisão e de clubes por onde passaram. Ele liderou a defesa que tomou 10 gols em 46 jogos, fato histórico no futebol inglês, e vai liderar a defesa que vencerá a Premier League ano que vem."

Além da EFL, a Copa da Inglaterra, ou The Emirates FA Cup, era o segundo desafio mais importante de Castro no ano. Isso porque, no planejamento esportivo e financeiro, o título alavancaria o Notts à primeira divisão com muito mais moral e receitas - mas não só isso, o objetivo maior era conquistar a vaga à Liga Europa. Desafiando todos os gigantes, a final foi ironicamente contra o modesto Brighton - um jogo com a cara das divisões menores: pegado, pouco espaço e muita velocidade para as escassas oportunidades, o título veio com um gol na segunda etapa de Hwang Hee-Chan. Um placar que destoou do restante da caminhada, cujo jogo mais lembrado será, sem sombras de dúvidas, o sonoro 3 a 0 aplicado sobre o Manchester City em pleno Etihad Stadium - 2 gols de Häland - o primeiro deles aos 3' de jogo; e 1 de Eddie Nketiah.

Ambos títulos trouxeram marcas doces ao Notts County - o título da Liga é o sétimo da cidade de Nottingham, porém o quarto do Notts - desempatando a disputa com seu maior rival local, o Forrest. Ainda, vê o acesso deixar para trás este adversário, que permaneceu preso à segunda divisão. E o título da FA é o segundo da história do clube, conquistado 127 anos depois do primeiro, em 1893/1894.

Elenco campeão da EFL Championship e da FA Cup


Goleiros: Schofield, Foster e Palmer;
Laterais: Tootle, Chamberlain, Aarons, Bakayogo, Clichy e Evina;
Zagueiros: Bird, Cahill, Saliba, Soyoncu e N'Gala;
Meio-campistas:James, Saka, Bjarnason, Adama, Rose, Willock, Boldewjin, O'Brien (aposentado), Fabregas, Helal e Loum
Atacantes: Nketiah, Häland, Hwang Hee-Chan, Ayassou, Greenwood, Thomas (aposentado), Hemmings e Wooton.



A temporada 2021/2022 trará o Notts County a um ambiente desconhecido, a Premier League. E, ao seu lado, mais inóspito a suas tradições, uma competição europeia, a UEFA Europa League. Até onde vai esta jornada? Liverpool, Arsenal, United, City, Tottenham, Leicester, Chelsea. Gigantes contra um ousado ancião. Você sabe, Sherlock?

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