A crítica da imprensa se concentrara na quantidade de estrelas que formariam o elenco da equipe na temporada. Para setores da mídia, houve perda da essência da equipe, voltada apenas a vencer a qualquer custo. Abstendo-se disto, Castro assume porém uma grande responsabilidade: não teve êxito na estratégia de montar duas equipes no paralelo, uma essencialmente para a PL e outra para a UCL. O calendário apertado reduziu tempo de treinos e a aposta fora no talento e não tanto na superioridade tática e coletiva característica do Notts County.
4 títulos entre 6 vieram sim. O vestiário teve harmonia sim. A torcida esteve do lado sim. Na verdade, foi uma grande temporada - porém, mais difícil do que chegar ao topo é se manter lá - e por isso, talvez, as críticas foram tão duras - mas jamais um flop.
O ELENCO
Entre tantas modificações no elenco, algumas saídas foram bem importantes. Por exemplo, Adama Traoré retornou aos Wolves após ser coroado um talismã no condado de Notts. A venda foi um pedido pessoal do atleta, que queria mais tempo de jogo e titularidade garantida em uma equipe que conhecesse, e ocorreu sem algum estresse por £17MM. O relacionamento tanto se manteve bem, que Castro convocou Adama à seleção espanhola, após o bom início do velocista pelo rival inglês. Outro atleta importante na última temporada, e que deixou o clube, foi Pablo Mari. O central espanhol conseguiu um bom contrato com o Leicester e foi vendido por £10MM. A grande relevância, porém, fica nos nomes emprestados. Com o objetivo das conquistas e a contratação de grandes craques, nomes históricos deste Notts ficariam muito tempo no banco. E num grande acordo, alguns deles foram emprestados para ter mais tempo de jogo - e obviamente, retornarem mais experientes à Meadow Lane: Evina, Ox, Boldewjin, Mitch Rose e o zagueiro Bird. E ainda houve a liberação de jovens para pegar maior rodagem: Helal, Allen, Arnaiz, Demirci e Ayassou foram emprestados. A janela de inverno ainda viu a saída em definitivo de Immobile, que não conseguiu se adaptar ao clima britânico, e Phillips, que exigia mais tempo de jogo.
Por outro lado, as chegadas foram impressivas. Com os títulos da UCL e PL, Castro agregou £323MM aos cofres do clube. Deste valor, £185MM foram disponibilizados para transferências, valor recorde entre os clubes da PL - e nem se diga para o próprio Notts County. O brasileiro, entretanto, aproveitou a janela de forma muito habilidosa, trazendo grandes nomes gratuitamente - e fim de contrato, pagando apenas as famosas luvas. De Ligt, Van Dijk, Tonali, Toni Kross e De Bruyne.
Coman chegou nas mesmas condições, mas foi trocado por Frankie De Jong, do Barcelona; Neymar também nem aportou no condado, saindo para a chegada de Dani Ceballos, suprindo posição carente no elenco.
Ainda, na janela de inverno, Castro trouxe o senegalês Sadio Mané, qualificando muito o setor ofensivo da equipe e repatriou o ídolo Schmeichel, frente à iminente aposentadoria de Ben Foster, já aos 40 anos de idade. Complementando, o volante Casemiro chegou para fechar o elenco e trazer mais equilíbrio à equipe inglesa.
Assim, o elenco final:
Goleiros: Schofield, Schmeichel e Foster;
Laterais: TAA, Hakimi, Tootle, Alaba e Tagliafico;
Zagueiros: Hummels, De Ligt, Virgil, Saliba, Brown e N'Gala;
Meio-campistas: Casemiro, Tonali, Kross, James, De Jong, Ramsey, Fabregas, De Bruyne e Silva;
Atacantes: Nketiah, Häland, Saka, Gbagho, Alexis, Lucas Moura, Mané e Greenwood.
Apesar de duas escalações para as competições, Castro priorizou para os jogos mais importantes um time formado no 3-6-1. Um esquema nada usual, mas montado a dedo para o elenco. Um volante jogando como líbero para qualificar a saída de bola; De Jong jogando de primeiro volante, mas com liberdade para se deslocar em campo. E duas flechas antes do centro-avante, destacando Bukayo Saka, que teve os melhores números individuais de sua carreira e consagrou-se recordista de gols na Premier League.
Schofield; Hummels / De Ligt, Tonali e Van Dijk; TAA / Hakimi, James, De Jong e Alaba; De Bruyne, Saka e Nketiah.
*Hummels e TAA sofreram graves lesões durante a temporada, desfalcando a equipe em muitas partidas.
O FENÔMENO SAKA
Saka, que em 4 anos com a camisa do Notts tinha feito 33 gols, marcou incríveis 39 nesta temporada - 34 apenas na Premier League, tornando-se o maior artilheiro de uma edição moderna do campeonato inglês, empatado com Cole e Shearer (estes na época de 42 rodadas). Eleito um dos 3 melhores jogadores de 2023, o limite parece um papel em branco para o filho de iorubás.
COMMUNITY SHIELD E SUPERCOPA EUROPEIA
Aproveitando-se dos títulos da PL e UCL do ano passado, o Notts "copou" as duas taças que abrem temporadas europeias. Pela competição local, 3x1 diante do Manchester City, em bela atuação do capitão, e já 100% recuperado, Nketiah. Já pela edição continental, um tranquilo 2x0 - perante os portugueses do Braga - ratificou o início de ano com dois mais espaços requeridos na prateleira de títulos.
PREMIER LEAGUE
O Notts County se tornou a segunda equipe a ser declarada campeã invicta da Premier League, depois do lendário Arsenal 03/04. Tantos times, como Manchester City e Liverpool, buscaram arduamente esta glória, mas ela agora ficará eternizada na camisa preta e branca do condado de Nottingham.
Foram simplesmente 36 vitórias (em 38 jogos), 110 pontos. 124 gols feitos - uma média de 3,26 por jogo. 20 gols sofridos apenas. Uma distância de 35 pontos para o surpreendente West Ham.
Dentre tantas marcas coletivas arrasadas | time com mais pontos numa temporada: 100 pontos; time com mais gols numa temporada: 106 gols; e time com maior saldo de gols: +79 - todos pertencentes ao City 17/18.
A campanha coroou o caneco com a maior antecipação da história, na vigésima nona rodada. Assim como nos dois primeiros títulos, a celebração do tri-campeonato veio mais uma vez em Manchester. Novamente no Etihad, mas agora de uma forma avassaladora: 7x1 com show de Bukayo Saka - 3 gols, e a aplicação da "lei do ex", pelo tento de Kevin.
De Bruyne, jogador super regular, de 18 gols e 16 assistências no ano.
A invencibilidade, curiosamente, quase caiu no último jogo - em Gales, o empate diante do Swansea veio apenas aos 84' de jogo, em gol chorado de Dani Ceballos.
Além da artilharia isolada de Bukayo, individualmente foi quebrado o recorde de mais assistências, com 23 de Eddie ante 20 de Thierry Henry.
Nketiah também fez 23 gols na competição, ultrapassando sua marca de 20 no primeiro título.
CARABAO CUP E FA EMIRATES CUP
A eliminação da Carabao, quase sempre desprezada, deixou muita gente triste no Meadow Lane. A amarga eliminação para o Norwich, nos pênaltis, colocou à prova a estrutura do vestiário de Castro. A simplicidade da competição contrapunha-se à verdade de que não venceriam mais todos os títulos do ano.
Na FA, por outro lado, foco absoluto. A caminhada tranquila, com vitória perante o Arsenal nas semifinais, presenteou a todos com um Wembley lotado para a final entre Notts e Leicester, duas pequenas potências locais. O placar todavia fora chocante: 5x1, com todos os gols dos magpies em quarenta minutos de jogo - Nketiah, Tonali e Hakimi, além do doblete de Alexis Sanchez, na partida que marcou sua despedida do futebol junto com Tootle e N'Gala - um título inesquecível para algumas lendas desta equipe se aposentarem com a histórica camisa.
UEFA CHAMPIONS LEAGUE
A primeira fase foi um passeio para os comandados de Castro. Com cinco vitórias e um empate diante do Napoli em casa, classificação tranquila. Mesmo com o atual campeão da Europa League no grupo, Braga, nada parecia abalar o elenco. Assim, tudo dava a crer que o bicampeonato era questão de tempo. Pelas oitavas-de-final, os Magpies deixaram o Santiago Bernabeu aplaudidos de pé, após um convincente 3x0 - com direito a golaço de Alaba, de fora da área. Na volta, um tranquilo 2x1 contra os espanhóis apontou a sequência da competição no país ibérico, contra o rival Barcelona.
E, na Catalunha, no que todos consideram o jogo mais difícil da "Era Castro", uma derrota por 0x1. O jogo de volta, já cercado de tensão, até começou bem com um gol de Hakimi. Entretanto, o jogo não se desenhou favorável aos ingleses, que viu o sol se por em 2x2 e a consequente eliminação da UCL.
Com os jornais estampando o "The Galactic Flop", Castro justificou a queda na força adversária: "o Barcelona é a melhor equipe do mundo, todos sabem disso. Nós queremos chegar lá e podemos ter este status. Infelizmente, não foi hoje que o pegamos deles. Precisamos respeitar a grandeza dessa equipe. E também de nos respeitar. Estamos criando um legado. Somos os atuais campeões, queiram ou não. E vamos lutar para que no ano que vem, já mais experientes e cicatrizados desta ferida, possamos mostrar que somos os melhores. A realidade é, e vimos hoje, que ainda não somos. Precisamos treinar mais, lutar mais. Temos o melhor futebol da Europa, o mais bonito, e estávamos mostrando resultados. Tivemos um tropeço. Fatal, mas apenas um tropeço. Não podemos jogar isso tudo fora."
O grande erro, segundo a percepção interna da equipe de Castro, foi a manutenção de dois times. Aqui, o time-base, que jogou a primeira fase fora: Schofield; Hakimi, De Ligt, Saliba e Tagliafico; Kross, Lucas, Ceballos e Ramsey; Greenwood e Häland. Entretanto, a partir do mata-mata, entre times mesclados e a utilização do sistema de jogo doméstico (3-6-1) tornou o time frágil e, assim, apto à saciar os interesses barcelonistas.
SELEÇÃO ESPANHOLA
Castro deixara Portugal para comandar a vizinha Espanha no sonho europeu. O ambiente na Fúria era horrível - a entre safra da geração de Xavi e Iniesta, o tentar mesclar jovens e veteranos, as brigas políticas na federação. A campanha nas eliminatórias foram honestas com 28 pontos em 10 partidas. Capitaneado por Ceballos, o time vivia um conflito da característica de velocidade versus a histórica necessidade de posse de bola.
O time-base da Euro era: De Gea; Bellerin, Pau Torres, Pique e Alba; Fabian (Llorente), Adama, Rodri, Ceballos e Olmo; Alcácer.
A decisão de convocar José Pozo em lugar de Isco, apesar de óbvia tecnicamente, deixou a ala madridista furiosa. Após tentativas de interferências, Piqué anunciou a aposentadoria da seleção antes do terceiro jogo, contra a Escócia. Era um caos que repetia 2018 nas terras espanholas.
Apesar das 3 vitórias na primeira fase e o bom jogo nas quartas, contra Portugal, tudo estava fora do lugar. E, nas semis, um time abatido enfrentou a Alemanha e saiu destruído - o 0x1 no placar não reflete a falta de vigor e atenção da equipe na partida. Uma campanha triste.
PRÓXIMOS PASSOS?
Como dito e repetido, muita coisa boa aconteceu em Nottingham. Nketiah se tornou o maior artilheiro da história do clube, com 157 gols ao fim da temporada - contra 137 do legendário Les Bradd (1967 - 1978). O Notts County tornou-se o segundo campeão invicto da história da Liga Inglesa e quebrou uma infinidade de tabus coletivos e individuais - teve artilheiro e vice-artilheiro, cinco entre seis principais assistentes para gols, antecipação de 10 jogos para o título.
Após a conquista da FA, foram necessários ao menos cinco encontros entre Castro e diretoria. Esta não vira cumpridos objetivos básicos, de categorias de base e resultados esportivos (leia-se Champions League). Castro contrapôs com a campanha invicta, o título de uma copa e o lucro de £492MM para o clube.
O embate entre Notts County x Castro x Federação Espanhola também foi um ponto considerado. As exigências espanholas eram enormes e o ambiente para desenvolver um bom trabalho péssimo - Piqué, por exemplo, abandonou a seleção no meio da Eurocopa mesmo diante de bons resultados.
De todo modo, no final de junho, foi decidido: Castro renovara com o Notts County! Objetivos claros: 1) vencer tudo que disputar; 2) revelar jogadores; 3) diminuir a média de idade de 26,4 para 24,0 anos de idade. Tudo como parte de um grande plano de renovação do legado e perpetuidade. O treinador ainda deixaria o ambiente nefasto da federação espanhola para focar 100% no novo contrato.
Internamente em sua comissão, Castro que só tinha dois preparadores físicos e time de tecnologia, decidiu por uma revolução: não seria possível conquistar tudo sem um staff realmente forte. E a solução esteve por muito tempo dentro das quatro linhas:
Treinador de goleiros - Ben Foster
Treinador de zagueiros - Bondz N'Gala
Treinador de meio-campistas - Birkir Bjarnason
Assistentes de treinos táticos - Matt Tootle e Daniel Jones
O trabalho segue e está na hora de (re)conquistar o mundo de uma vez por todas. Rumo tetracampeonato doméstico e iniciar uma dinastia europeia. Desafios ousados mas possível. Common magpies!
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