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quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Arsenal e um espaço para neologismos: a botafogonização

Há décadas o Arsenal não bate tantos recordes negativos. Piores posições, piores inícios, piores sequências sem vitórias, fora de competições internacionais de quaisquer níveis. 

O "Efeito Emirates", que secou as fontes do clube por um tempo, prolonga-se e ainda é desculpa para fracassos - mesmo sendo o clube que mais gasta numa janela de transferências na Premier League, como foi neste verão.

A dupla Edu e Arteta, doravante designada apenas patetas, que manda no futebol, não tem a confiança da torcida e parece que nem respaldo do próprio vestiário. O conto de construir uma cultura vem deixando a torcida impaciente, não sabendo nem qual cultura é essa.

Os atletas não se desenvolvem, nem dentro da cultura nem esportivamente.

O novo vestiário foi recheado com novas peças, todas muito jovens e apenas duas com potencial para titularidade imediata.

Os veteranos, por outro lado, mantém mais uma temporada de expressões derrotadas e, mais, conformadas com a derrota.

William sai do clube e o projeto é detonado por Kia Joorabchian, cumpadre de Edu e famoso por operações nebulosas no mundo do futebol.

Fechamos o dia 31/08, último de janela, mais preocupados em desovar atletas do que em trazer caras bons.

Mais parece uma série de equívocos atrás de equívocos.

Incompetência total.

O Arsenal gastou mais em White que o Manchester em Varane. No geral, gastou-se mais em White, Odegaard, Nuno, Tomiyasu e Ramsdale juntos que o United para contar com o zagueiro campeão do mundo pela França, Jadon Sancho e Cristiano Ronaldo. Parece surreal não? Ainda mais ao pensarmos que isso não reforça necessariamente o time titular, que disputa competições hoje.

É, na verdade, de se esperar: o clube não é atrativo para jogadores de calibre mundial. Jovens podem ver o clube como uma ponte a "clubes maiores" entretanto, caras consagrados não querem ir para um time que fede a fracasso.

No gol, Leno deu muitos sinais de insatisfação e parecia querer deixar o clube; sem propostas, permaneceu. Entretanto, o clube trouxe Ramsdale para ser sua sombra - jovem talentoso, mas que significa um atleta de £30MM para jogar as copas nacionais. Lembrando que, um ano antes, perdemos o argentino Emi Martínez por muito menos e, questionavelmente, melhor que os dois citados acima. Ainda nos livramos, nesta janela, de Runnarson, uma aposta completamente furada dos patetas, que foi atuar no segundo escalão da liga belga.

Na lateral-direita, o verdadeiro circo. Terminamos e começamos temporadas com Calum Chambers na posição, um fraco jogador inglês contratado à época de Arsene Wenger - quando este já estava na sua fase delirante. Cedric não tem confiança em si, Bellerín pediu para sair (e foi para o Real Betis, por empréstimo no último dia de janela) e Niles resolveu ser lateral esse ano e avisar todo mundo pelo Instagram; além disso, o canhoto Nuno Tavares foi improvisado aqui na primeira rodada. A posição é um resumo da péssima gestão de elenco dos patetas; no último dia, ainda, chegou o japonês Tomiyasu, oriundo do Bologna, que em tese brigará fortemente pela titularidade numa tentativa desesperada.

Na lateral-esquerda, Tierney é dono absoluto da posição; seu problema se resume às frequentes lesões. Se estiver saudável, inquestionável; porém isso é pouco provável. Como backup vamos de Nuno Tavares, jovem demais e ainda se adaptando à velocidade da liga; e Kolasinac, que já provou muitas vezes ser incapaz de jogar neste nível de competição - e mesmo assim foi titular contra o City na goleada de 5x0 (improvisado como zagueiro).

Na zaga, Ben White promete tomar conta e dar segurança ao setor, mesmo com toda sua juventude - carrega o fardo dos mais de £50 pagos para sua chegada; ao seu lado deve jogar Gabriel Magalhães, que teve ótimo início na última temporada e acabou sofrendo na reta final com lesões. Sem David Luiz no elenco, as opções para rodízio são Holding e Pablo Marí como centrais de ofício, que já tiveram boas atuações mas oscilam demais dentro de um próprio jogo. No mais, veremos provavelmente vários improvisos de Mikel na posição, especialmente nas copas. Poderíamos contar ainda com Mavropanos e Saliba, mas Arteta não gosta de ambos e, apesar de voarem baixo em ligas europeias, são rotulados como inexperientes e despreparados para vestir a camisa vermelha.

Como volantes, contamos que Partey vai deixar as lesões de lado e se tornar um mínimo de "Patrick Vieira" - o ganês promete muito, teve boas atuações, mas no geral não foi sombra daquele volante que contávamos que ele seria. Ao seu lado deve jogar Xhaka, questionadíssimo mas de contrato renovado - com um polpudo aumento e expulso logo na terceira partida com vermelho direto, ele engana todo mundo com uma liderança instável e pouco resultado à velocidade das partidas, que o deixa atordoado. Lokonga chegou para ser reserva imediato e Elneny compõe o corpo de volantes do elenco. Problema: na CAN, Partey e Elneny deixarão o clube e teremos apenas dois jogadores disponíveis para a fase mais aguda do ano; Torreira e Azeez foram dispensados por birra dos patetas e a promessa de profundidade do elenco não existe - fragilidade que pode custar caro ao clube na tábua de classificação.

No meio-campo de criação, dependeremos muito de ERS, novo 10, e de Odegaard, que jamais se firmou no Real Madrid. Um mais garoto e outro já um pouco mais consolidado, mas duas promessas irregulares e às vezes até apáticas. Ambos têm muita bola pra mostrar, mas precisam estar num sistema de execução organizado - o que não há.

Pelo lado do campo, poucas opções. Pepe às vezes encontra seu futebol, porém quando começa a ter sequência, seu futebol cai e logo é jogado para o banco de reservas - vivendo num loop eterno desse modo; é bom jogador, custou mais do que deveria, e precisamos rezar por seus lampejos. Saka é o grande "hype" do elenco, tem personalidade e talento, e deve ser o dono de uma das posições. William se foi para o Corinthians, desencantado com o péssimo trabalho gunner. Sem Nelson, acabaremos forçando a barra com PEA e Martinelli eventualmente, mesmo perdendo o talento destes dois atletas perto do gol.

Na posição de camisa 9, dilemas. Lacazette (que ostenta tal número nas costas) não teve propostas para sair, vira e mexe está chateado, e deve fazer seus 12 gols no ano sem garantir a posição de titular. Eventualmente, Aubameyang jogará na sua função principal, na esperança que retome temporadas de +20 gols no ano, o que é improvável. No mais, Nketiah não foi vendido e deve eventualmente jogar, apesar de entrar mal nos jogos... Balogun deve ter oportunidades escassas - diferente do prometido no ano passado... e Martinelli fará parte do rodízio, mesmo que fisicamente se sacrifique demais jogando aqui: o brasileiro não achou sua melhor posição e parece que Arteta não o está ajudando muito a se desenvolver.

Como podem notar, um elenco mal montado. Opções improvisadas a todo momento, atletas que não se desenvolvem. Um esquema tático que deixa espaços gigantes entre as linhas, isola jogadores sem opções de passe. Um horror, um verdadeiro horror.

Hoje, comparamo-nos com Everton, West Ham, Leeds e Aston Villa. Somos um time de meio de tabela, que briga por Europa League. Somos compradores de mercados secundários ou temos de pagar sobre preço a clubes de uma prateleira mais alta.

A competitividade é baixa, o investimento é alto e o futuro, o futuro nunca chega.

Provavelmente terminaremos, se continuarmos com os patetas, entre 6° e 8° na temporada, sendo otimistas. 

Mais um ano fora de competições internacionais vai trazer dificuldades financeiras ao clube, que já é escanteado pelos donos americanos, que têm foco em outras modalidades.

E, assim, vamos ter um ano seguinte de menor investimento; eventuais talentos, como Saka, vão optar por se mudar para clubes mais estruturados para disputar a UCL - como Grealish fez neste verão, ao deixar o querido Villa pelo City: o amor deixará de falar mais alto pela própria carreira.

Consequentemtente, estamos eternizando a mediocridade e nos tornando um gigante adormecido: o Botafogo da Inglaterra. 

Como se Nilton Santos fosse Bergkamp e Garrincha, Henry, seremos aqueles saudosistas dos Invencibles e daquele ano que tivemos o maior time do mundo. E fim.

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