A segunda temporada em terras cearenses foi, com toda certeza, mais difícil que a primeira para o técnico Castro. Foi uma temporada de oscilações, tensão, polêmicas, irregularidade – apesar dos resultados fantásticos em campo e o lugar nos livros de história do futebol brasileiro.
Com o título nacional no ano anterior, 2022 se projetou como um ano de quase obrigação pelo bicampeonato e, também, do favoritismo à Copa Libertadores – mesmo sendo sua estreia na competição sul-americana.
Com mais recursos, a janela de janeiro (menos agitada em terras europeias) ajudou a fortalecer o elenco. Alguns jogadores com desempenho fraco saíram (Pituca, Douglas, Bambu, entre outros) e outros bons nomes retornaram ao Brasil, casos de David Luiz, Felipe Anderson, Paulinho e Leandro Damião como destaques.
As novas peças demoraram a encaixar – a engrenagem que rodava em 2021, com novos elementos, não parecia mais a mesma. Porém, mesmo jogando um futebol abaixo da expectativa, os resultados vinham, e o clube avançava na liga brasileira e na busca pela Glória Eterna da América.
O primero semestre ainda fora marcado por desentendimentos no vestiário e com a diretoria. Alexandre Pato criou várias indisposições (até culminar com sua liberação na janela seguinte) e a diretoria insistia por metas financeiras praticamente impossíveis de atingir - e manter um time competitivo ao mesmo tempo.
Mas com metade da temporada ultrapassada, que as coisas ficaram mais nebulosas. O desempenho notável em resultados no ano anterior chamou a atenção dos europeus, que vieram buscar recursos para fortalecer seus times; assim as saídas aumentaram no atacado, com os “gringos” levando o artilheiro Henrique Dourado (Holanda), Jaílson, Alexandre Pato e Brenner (Inglaterra), Pedro Rocha (Espanha) e mais alguns outros para ligas menores.
Dentre todos esses, Jaílson fez a maior falta – a saída do camisa 5, coração da equipe, mutilou o sistema de recuperação de posse de bola, que levou quase 3 meses para reconfigurar ao estado de excelência da temporada anterior.
Por outro lado, com cofres cheios, mais brasileiros foram repatriados, e caras talentosos demais: Bernard (aquele), Joelinton e Matheus Pereira.
Os dois últimos, aliás, foram os grandes responsáveis por virar a chave ao final da temporada – após as oscilações pós-janela, assumiram a responsabilidade e seus gols garantiram as duas esperadas taças ao Leão do Pici.
O ano avançou e apesar da estremecida relação com seus superiores, Castro conseguiu manter o vestiário blindado de todos os problemas e continuar remando adiante.
Pelo campeonato brasileiro, o time arrancou bem desde o início e liderou a tabela de ponta a ponta. Mesmo sem grandes atuações durante parte do torneio, a consistência em saber vencer jogos afastou Internacional e Grêmio – novamente os principais adversários – de qualquer chance. O título veio novamente na última rodada, em casa, diante do Goiás: 4x1, com dois gols de Damião e dois gols de Matheus Pereira. Num ano sem destaques individuais, sem artilharia, principal assistente ou goleiro menos vazado, os 59 pontos foram mero reflexo do coletivo.
E, no coletivo, também veio a Copa Libertadores. Num grupo de médio para difícil, o time se saiu muito bem, perdendo apenas uma partida para o Boca Juniors e classificando com 15 pontos.
Mais que um golpe de sorte, o Fortaleza aprendeu em poucos jogos como disputar a taça – e a partir do mata-mata, aproveitar muito bem a primeira perna dos confrontos. Assim, bateu Barcelona nas oitavas (6x2 agregado), Del valle nas quartas (6x0) eGrêmio nas semifinais (7x2).
A final, em jogo único e estádio neutro, foi contra o Racing Club, time tradicional argentino, que havia eliminado gigantes em seu caminho, entre Palmeiras e River Plate. Final de Libertadores contra um time argentino sempre tem sabor mais especial – imaginem ainda se, logo no início do jogo, um pênalti inexistente é marcado e você marca, né? Assim foi: de um modo quase sádico, um pênalti polêmico foi marcado e David Luiz converteu, logo aos cinco minutos de jogo. Isso abalou a equipe de Avellaneda, que atordoada e muita irritada, não se encontrou mais. Ainda no primeiro tempo, Felipe Anderson marcou mais duas vezes e decretou o caminho da glória. Um gol sofrido, já nos acréscimos, nada mudou o destino da partida e do novo rei do continente!
Nos holofotes da América, o nordeste brasileiro chegou ao auge agora também pelo futebol. O eixo revelador, por horas relegado ao sudeste, agora é o mais temido.
2 anos de Fortaleza, 2 anos de sol cearense, trabalho, luta e títulos. Um biênio de reestruturação do eixo do futebol brasileiro, dando olhos a um trabalho de anos, que passou por Ceni, Vojvoda e chegou a Castro.
75 jogos, 57 vitórias, 12 empates e 6 derrotas. 180 gols marcados e 52 sofridos.
A maior goleada foi em cima do Santos, 8x1. Exatamente um mês depois da maior goleada sofrida, 1x4 contra o Galo.
Com um trabalho plantado e com objetivos colhidos, somado à tensão com superiores, nada mais justo e cabível que buscar novos desafios, reinventar-se e tentar semear a filosofia num novo estado, numa nova camisa.
Obrigado, Fortaleza! Vocês alcançaram a Glória Eterna! Nós alcançamos a Glória Eterna!
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