Depois de 10 temporadas consecutivas dirigindo o Notts County, da quarta divisão inglesa à sequência de títulos da Champios League, o desafio volta à estaca inicial, agora nos arredores de Manchester, na cidade de Horwich, para dirigir o Bolton Wanderers Football Club.
A proposta do clube atraiu Castro pelas lembranças afetivas com o clube, acompanhando um dos auges no Reebok Stadium, sob comando em campo do lendário Jay Jay Okocha. Um dos maiores jogadores africanos da história, nascido na Nigéria, que fez quase 150 jogos com a camisa do time inglês, e encantou o mundo com sua apurada técnica, capacidade de dribles e a ambidestria ímpar.
O treinador assumiria com uma proposta diferente em relação ao Notts County: no Bolton, era claríssima a ambição de devolver ao time à Championship. Mais do que isso, era o objetivo: duas temporadas e deixar o clube à porta da elite do futebol inglês.
Honestamente, a ambição era deixar o clube na Premier League. Entretanto é sabido que o custo dessa operação é caro e pode significar um declínio tão célere quanto a ascensão. Em Nottingham, Castro fora para o all in. Aqui, em Horwich, então a meta era mais conservadora.
E houve sucesso! Em duas temporadas, Castro recolocara o Bolton na segunda prateleira do futebol britânico e com títulos nacionais! Vamos a um pouquinho dessas duas temporadas e mais um feito concluído na carreira do treinador brasileiro.
2020/2021.
As limitações da reconstrução financeira e o pouco glamour da quarta divisão não foram atraentes para grandes talentos. Única contratação de peso foi Miguel Azeez, criado em Hale End, que veio com a promessa de capitanear a equipe no futuro. E talvez Schofield, seu velho homem de confiança debaixo das traves. Além deles, veteranos. Aquele velho esquema: bons, porém fora do auge. De confiança apesar de baratos. Dawson (Tottenham), Colloccini (Newcastle) e Jonas Gutierrez (Newcastle). No mais, Castro aproveitou o elenco já existente e investiu a sua pouca verba nas divisões de base.
Mesmo apostando em talentos que iriam surgir apenas meses depois, quase que de cara, Castro pode contar com três jovens: Payne, segundo atacante galês; Emil, ponta-esquerda alemão; e Abubakar, lateral-esquerdo egípcio. Abubakar, aliás, considerado o "Novo Salah" pela imprensa de seu país - único jogador do elenco convocado para seleções nacionais, mesmo com 17 anos de idade. Já no clube, chamam-no de "Novo Alaba", dado que joga de zagueiro, lateral, meia e atacante com a mesma incrível facilidade.
Se o elenco não mudou quase nada nas mãos de Castro, talvez de todos os elencos comandados nos últimos tempos, esse foi o mais solidário, coletivo que o treinador já teve. Apesar de Delfouneso ter se destacado com mais gols no início, as estatísticas falam por si: 8 jogadores com +10 gols no ano, 6 com +10 assistências. Os atletas com menos participações jogaram ao menos 14 partidas, à exceção de jogadores que já estavam em fim de contrato.
Delfouneso não alcançou a artilharia da EFLLT, com 21 gols - mas viu 5 companheiros marcarem +10 gols apenas na competição. Dentre os 5 principais "garçons" da competição, ainda, 4 vestiam a camisa do Bolton - com destaque para o lateral-esquerdo Mascoll, com 12 assistências.
Artilheiro do ano: Delfouneso, 27 gols
Assistente do ano: Doyle e Mascoll, 17 passes para gol
Mais partidas disputadas: Delfouneso, 47 jogos
Time-base: Schofield; Kioso, Dawson, Delaney e Mascoll; Azzez, Sarcevic (C) e Jonas Gutierrez; Gnahoua, Delfouneso e Abubakar.
Elenco | goleiros: Schofied e Gilks; laterais: Kioso, Jones, Hickman, Mascoll, Abubakar e Brockbank; zagueiros: Dawson, Delaney, Colloccini, Santos, Baptiste, Taft e Greenidge; meias: Azzez, Sarcevic, Jonas, Comley, Crawford, Isgrove, Politic, Tutte e Thomason; atacantes: Delfouneso, Gnahoua, Doyle, Akinfemwa, Miller, Payne e Emil.
Saindo do critério estatístico, já premiado, abaixo os melhores do ano na votação da torcida:
MVP: Isgrove (38j, 18g, 13a)
MVOP: Delfouneso (47j, 27g, 13a)
MVDP: Delaney (38j, 2g, 0a)
MVIP: Politic (33j, 15g, 8a)
Tanta história, estatística individual... e os resultados?
Bom, o Bolton subiu para a EFLLO com o título da League Two. Com 12 pontos à frente do Tranmere Rovers, o clube terminou a competição com 96 pontos. Foram 30 vitórias em 46 partidas, apesar de 10 partidas em derrota; o melhor ataque disparado com 125 gols (58 a mais que o segundo melhor) foi o extremo oposto da 5ª pior defesa, a pior entre os 20 primeiros colocados, com 63 tentos sofridos.
Uma média de 2,08 pontos/jogo, com um placar médio de 2,71 a 1,37.
Independentemente disso: o acesso e o título foram fundamentais no plano traçado para as próximas duas temporadas.
Nas grande copas, o desempenho em âmbito nacional foi ruim. Duas eliminações no primeiro confronto, seja pela Copa da Liga seja pela Copa da Inglaterra;
Já pelo troféu da EFL (entre times da 3ª e 4ª divisão), o título veio contra o Forest Green - chorado, nos pênaltis, em conversão final de Dawson.
Agora o Bolton chega credenciado, sim, como favorito ao título da EFL League One; quando dirigia o Notts, Castro conseguiu um movimento de crownfunding que alavancou o poderio para contratações - hoje, entretanto, em plena reconstrução e com um compliance agressivo, a aposta é na base campeã e nas divisões de base do próprio clube.
É um entendimento geral que é necessária a vitória em uma Copa de representatividade nacional além do acesso à Championship agora, a sonhada meta. E para equilibrar as finanças, usar a base como recurso de vendas - e a pressão é grande.
2021/2022.
A temporada foi muito parecida com o acesso da League Two. Apesar de sofrer nas grandes copas, o Bolton venceu a divisão nacional com conforto e levou também a Copa da EFL. Nas 46 partidas disputadas, gigantes 38 vitórias e 6 derrotas. O melhor ataque disparado com 135 gols porém a pior defesa entre os oito primeiros colocados, com 56 sofridos. Ou seja, muito similar ao que aconteceu na temporada anterior porém com todos índices apontando para cima:
EFL One: Uma média de 2,52 pontos/jogo, com um placar médio de 2,93 a 1,21.
EFL Two: Uma média de 2,08 pontos/jogo, com um placar médio de 2,71 a 1,37.
E não que Castro não tenha reforçado sua defesa para melhorar ainda mais esse retrospecto. Sem dinheiro, mas com um projeto audacioso e ótimos "free agents" no mercado, algo não esperado ao final da última temporada, o clube da grande Manchester conseguiu nomes relevantes: Lars Bender, Fernandinho, Ampadu e Declan John foram quatro defensores que ajudaram a diminuir em 7 gols, em relação ao ano anterior. Podolski chegou para ser o nome de referência (considerando que Delfouneso perdeu os 7 primeiros meses da temporada, com lesão LCA) e convenceu Ozil, em decadência para grandes clubes, a fazer parte de tal projeto.
Com todos os reforços acima chegando gratuitamente, Castro concentrou sua verba em apenas dois nomes: Ollie Watkins e Ivan Toney. Chegando na metade da temporada e com passagens marcantes nas divisões inferiores do futebol inglês, eles toparam dar um passo atrás na carreira em função de serem líderes do elenco a longo prazo. E funcionou! Ambos tiveram, nos cinco meses vestindo a camisa do Bolton, participação em 1 gol por jogo (gol ou assistência) além de Watkins receber sua primeira convocação para a seleção nacional, mesmo jogando na terceira divisão do país!
Individualmente, com exceção de Podolski e Ozil, os números foram medianos talvez. E não que isso mostre algo ruim, pelo contrário: o lema era a coletividade do elenco. Claro que Mesut, sobretudo, era um nome muito especial dentro do time, considerando a dimensão internacional do craque - entretanto, o modo como as partidas foram ganhas com tantos nomes decisivos, mostra que a força motriz do clube era seu elenco.
Outros nomes se mantiveram e foram decisivos. Sarcevic jogou numa nova função, mais recuado. Politic se consolidou no time titular e foi de revelação a um dos grandes nomes do time. Delaney mostrou ser uma rocha e passou a receber sondagens de times do Top Six da Premier League. E Jonas Gutierrez encerrou sua carreira como uma verdadeira lenda, sendo decisivo em todas as fases do jogo, marcando gols fundamentais e trazendo a experiência e garra que sempre o caracterizou.
Artilheiro do ano: Podolski, 23 gols
Assistente do ano: Podolski, 23 passes para gol
Mais partidas disputadas: Azeez e Schofield, 39 jogos
Time-base: Schofield; Bender, Fernandinho, Delaney e Abubakar; Sarcevic (C), Jonas Gutierrez, Isgrove, Ozil e Politic; Podolski.
Elenco principal | goleiro: Schofied; laterais: Bender, Jones, Abubakar, John e Brockbank; zagueiros: Dawson, Delaney, Fernandinho, Ampadu e Santos; meias: Azzez, Sarcevic, Jonas, Comley, Crawford, Isgrove, Politic e Ozil; atacantes: Delfouneso, Gnahoua, Doyle, Podolski, Toney e Watkins.
Elenco aspirante | goleiros: Penman e Prosser; laterais: Payne; zagueiros: Kuusik; meias: Gonzalez e Ezekweslli; atacantes: Emil, Thaci e Ogilvie.
Pelo segundo ano, a torcida votou nos melhores jogadores da temporada:
MVP: Jonas Gutierrez (35j, 13g, 9a)
MVOP: Podolski (28j, 23g, 23a)
MVDP: Delaney (33j, 3g, 1a)
MVIP: Emil (32j, 14g, 7a)
As metas do ano anterior não foram totalmente cumpridas. A eliminação nas oitavas da Copa da Inglaterra e na segunda fase da Carabao foram frustrantes, apesar das limitações de elenco. Ainda, a meta de vendas passou longe de ser atingida, sacrificando as finanças pelo bem do campo - Politic, por exemplo, recebeu muitas ofertas, mas sua relevância em campo fez Castro optar por mantê-lo.
O acesso, porém, era o grande objetivo. E veio!
E de um modo que o coloca entre os favoritos da Championship, sem sombra de dúvidas. A base do elenco está estruturada, a formação de atletas gera opções e o caixa é o melhor desde a época da parceria com a Reebok. Agora, Castro deixa o comando e entrega a Jonas Gutierrez, que se aposentara no último jogo do campeonato. A filosofia está implantada - agora, as demais metas pendentes estão sob responsabilidade do argentino - Castro assume um papel de consultor combinado até 10/2022, no primeiro terço da Championship, e depois vai buscar seu caminho no mercado novamente.
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