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quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Time is written - Time to write the future | XXX

Rinus Michels, Johan Cruyff, Sjaak Swart, Marco Van Basten, Dennis Bergkamp, Jari Litmanen.... a lista de lendas do AFC Ajax é uma das maiores que um clube no mundo pode ostentar. Vivo desde 1900, teve sua era de ouro em 1970, quando chamou a atenção para si, com o futebol total. Do tricampeonato da Champions League nasceu o embrião para a seleção nacional, em 1974. Na década seguinte, mesmo com resultados ruins domesticamente, promoveu nomes como Rikjaard e Van Basten, que ergueram a taça de campeão da Eurocopa em 1988. E como fio condutor, Rikjaard ainda estaria presente na equipe do Ajax de 1995, que dominou o mundo com um disruptivo estilo de futebol.

Abrindo a década de 2020, o clube agora queria um novo período na história, queria se reposicionar como vanguarda, como promotor de talentos e como campeão. Para isso, Castro assumiu o comando que já fora de Michels e Van Gaal - sabendo que o tempo é escrito, era hora de escrever o futuro.

2020/2021 - O resgate de um gigante.

O primeiro ano do Ajax foi digno dos melhores tempos do clube holandês. Como contexto, entendam que o melhor ataque da história da Eredivisie pertence (pertencia) ao próprio clube, que anotou absurdos 122 gols nas 34 rodadas da edição de 1966/1967, o que configura uma média de 3,59 gols por jogo. Na ocasião, Johan Cruyff foi o artilheiro da equipe com 33 gols. 

Um time jovem. À exceção de Stekeleburg, Blind e Tadic, um grupo de garotos. Mazraoui, Gravenberch, David Neres, Antony, Noa Lang, entre tantos outros - mas um grupo  de garotos disposto a fazer barulho!

Assim, em 2020/2021, os Godenzonen fizeram 147 gols, equivalente a 4,32 gols por jogo. Mesmo distante da história de Johan, Haller foi o artilheiro com 38 tentos e grande nome individual do time.

Aliás, a perseguição do marfinense pelo recorde de Coen Dillen (PSV, 43 gols, 1956) foi incessante, mas o gosto de quebrar o recorde ainda não fora possível nesta temporada.

O campeonato holandês, então, foi conquistado com folga. Com 90 pontos (30 vitórias) no torneio, 88% de aproveitamento - os 147 gols feitos, já citados, e apenas 19 sofridos - vantagens confortáveis em quaisquer quesitos estatísticos. E se Haller foi o artilheiro, Dusan Tadic foi o principal assistente com 22 passes decisivos. O 35° título holandês do clube.

A Oranje Cup foi mais sossegada ainda. Sempre em jogos único, em quatro partidas o Ajax foi dominante e finalizou o título com um sonoro 6x1 contra o Gronigen.

A Champions League, como sempre, um capítulo à parte. Os 15 pontos na fase de grupos alçaram o time como um dos mais bem classificados - além de provocar a eliminação precoce do Liverpool de Kloop. Podendo mandar os segundos jogos em casa, a estreia no mata-mata foi perante o gigante Barcelona: 1x1 na Catalunha, 0x0 em Amsterdã e classificação com o regulamente debaixo do braço. Já contra Atletico de Madrid e Atalanta (quartas e semis, respectivamente), o time se valeu de duas boas partidas fora de casa para garantir o resultado e apenas administrar na Johan Cruyff Arena. 

A Turquia recebeu o duelo final, entre Real Madrid e o AFC Ajax. Um partida muito bem disputada e liderada por bom tempo pelos merengues, que abriram o placar cedo no jogo. O gol de empate, na segunda etapa, saiu dos pés de Antony - seu primeiro gol na atual edição da Liga. As tensões em campo levaram a disputa para a prorrogação, quando ainda nos seus primeiro minutos, novamente a cria de Cotia trouxe a bola pelo franco esquerdo e a guardou no fundo das redes de Courtois - 2x1, alguns minutos mais e Ajax campeão europeu!

O time holandês chegara à sua quinta conquista de UCL, empatando com o Barcelona na história e encerrando um jejum de mais de 25 anos - aquele time lendário de 1994/1995 de: Van Der Sar, Reiziger, Rijkaard, Blind, Frank de Boer, Ronald de Boer, Seedorf (Kanu), Davids, Finidi, Litmanen (Kluivert) e Overmars. (T) Van Gall.

Agora, a escalação que se tornará tão clássica quanto essa: Stekelenburg; Mazraoui, Ajer, Blind e Tagliafico; Wirtz, Gravenberch e Tadic; Neres, Antony e Haller. (T) Castro.

Sim, pai e filho, vinte e seis anos depois, na mesma linha de defesa, protegendo o mesmo lado esquerdo. Danny e Daley Blind, 1995 e 2021. Campeões.

2021/2022 - A afirmação.

O primeiro ano do Ajax foi arrasador. Como contexto, entendam que o melhor ataque já visto, em números.

A base do time, mantida em sua integridade, exigiu de Castro decisões duras com o elenco: muitos jovens queriam minutos, e o treinador pouco tinha a oferecer; assim a saída foi liberá-los por empréstimo, de 6 meses a 1 ano, para que o tempo em campo fosse satisfeito - e mais experiência acumulada. Nessa barca, foram Brobbey, Julian Alvarez, Ihattaren, Klassen, Labyad, Adams e Danilo - alguns no primeiro semestre, outros no segundo - todos para times médios e grandes, disputando campeonatos europeus. Ficaram Doku, Fábio Vieira, Pedri, entre outros. Mesmo assim, o elenco ficou mais curto (principalmente no segundo semestre) e na média de idade, mais experiente.

O time principal mantido (Stekelenburg; Mazraoui, Ajer, Blind, Tagliafico; Wirtz, Gravenberch e Tadic; Neres, Antony e Haller) e fundamental para conquista dos quatro torneios disputados no ano. 

O ano começou com a Supercopa Europeia, reunindo atuais campeões da UCL e da Europa League. Em confronto único, o dono do título mais importante do continente bateu a emergente equipe inglesa do Leicester por 3x2.

O título da Eredivisie veio com conforto, mas apenas depois de uma disputa de quase trinta rodadas cabeça a cabeça contra o PSV - que sofreu apenas uma derrota na competição, justamente quando o time de Eindhoven entregou a liderança de bandeja ao time da capital. Em 34 rodadas, foram 32 vitórias e 2 empates - equivalendo a incríveis 98 pontos. Com absurdos 167 gols apenas 13 sofridos, o clube conseguiu evoluir a campanha do ano anterior, reescrevendo a história em tão pouco tempo.

E falando em história, o recorde de Coen Dillen não sobreviveu: o marfinense Haller sagrou-se novamente artilheiro da Eredivisie, mas agora com 45 gols e elevou o patamar para qualquer especialista na arte de fazer gols.

Dusan Tadic também foi outro que não teve paciência para segurar o próprio recorde - as 22 assistências do ano anterior evoluíram para incríveis 26.

A Oranje Cup novamente foi procolocar, batendo o Vitesse, por 4x1, na final.

O quarto, e último, título foi da sonhada orelhuda - o bicampeonato seguido. A trajetória na primeira fase foi contra Leicester, Benfica e Salzburg - grupo gabaritado, jogando com a equipe alternativa (reserva). Nas oitavas-de-final, duas vitórias confortáveis diante da Atalanta (4x0 em Bérgamo e em Amsterdã). Pelas quartas, talvez o confronto mais difícil - o Milan complicou o jogo na Johan Cruyff Arena e segurou o 1x1; na volta, em pleno San Siro, os Ajacieden mostraram maturidade para obter um 2x0 ainda na primeira etapa e eliminar qualquer zebra. As semifinais saíram da Itália para a Inglaterra e o Liverpool seria o grande adversário - 3x0 na ida (em Amsterdã) e 3x2 em Anfield.

A grande final, sediada na Alemanha, colocou o grande time do momento diante do PSG de Messi, Neymar e Mbappe - aquele time tido como único possível a bater no Ajax. Entretanto, cientes da dificuldade, os comandados de Castro não esperaram muito tempo: Antony, que marcara os dois gols do título na campanha anterior, abriu o placar com passe de Tagliafico. Isso abriu o time francês, e permitiu que ao longo do jogo, Haller fizesse o segundo, o terceiro e o quarto. Final? 4x1 para o AFC, agora hexacampeão da UEFA Champions League.

Em 1995/1996, o Ajax tentara o bicampeonato mas teve a tentativa frustrada, com derrota nos pênaltis para a Juventus, em Roma. Se para trazer o título de 2020/2021 tivemos Daley Blind, para confirmar o bi tivemos que trazer o filho de outra lenda: Justin Kluivert, filho de Patrick Kluivert, lendário atacante holandês e, claro, do Ajax. Muita história!

A comparação do Ajax com o time da década de 90 é inevitável, pela lembrança afetiva e recente. Porém, já devemos avançar mais na história e lembrar do time da década de 70. Time de Neeskens e Cruyff e comandado por Rinus Michels, que revolucionou o futebol, conseguiu o tricampeonato europeu entre 1971 e 1973. Apesar de ser utópico alcançar - não o feito, mas a magia de tamanhas lendas - um passo poderia ser dado por Castro rumo à imortalização.

2021/2022 - A reparação de uma dívida histórica.

Aliás, Castro poderia dar um outro passo, diferente, rumo à imortalização.

A base desse time do Ajax, tricampeão na década de 1970, representou a seleção da Holanda na Copa do Mundo de 1974, tornando-a principal favorita. Entretanto, o sonho do título parou na Alemanha Ocidental - praticamente uma dívida histórica do futebol com a humanidade e o criando o mito da Laranja Mecânica.

Dezoito anos depois, na Euro 1988, o título chegou: Com Van Basten como o grande gênio da geração, nascido na base Ajacieden, a seleção de Rikjaard,  Koeman e Gullit fora comandada novamente por Rinus e mais uma vez encantou o mundo. 

Ou seja, por três vezes a seleção dos países baixos ou seu maior clube expoente encantaram o mundo, basicamente: com a geração de Cruyff, com a geração de Van Basten e com a geração de 1995, nossa grande referência até aqui. Chegara a hora de uma quarta geração, mas desta vez obstinada a reescrever a história e reparar o pecado do futebol - entregar a taça de campeão do mundo para a  Holanda. E, claro que Castro tendo tamanho sucesso no maior time do país, após Rinus e Van Gaal, a ele fora designada a grande missão.

Eliminatórias quase perfeitas. Num grupo com Turquia, Suécia, Romênia, Eslovênia e Bulgária: 8V, 2E, 36 GP e 4 GF.

Weghorst, grandalhão de 1,97m foi o artilheiro da equipe na jornada, com 6 gols; enquanto isso, Berghuis foi o principal assistente, com 7 passes decisivos para gol.

A equipe fez poucos amistosos antes da Copa, com destaque para dois diante da França. Testes positivos, com vitórias sólidas e alterações primordiais para achar o time ideal.

A estreia foi contra o México: jogo disputado, de muito estudo entre as partes. A Holanda estreou com Cillessen; Dumfries, De Ligt, Van Dijk e Malacia; Frankie De Jong, Wijnaldum e Gravenberch; Depay, Berghuis e Luuk De Jong. O único gol do jogo, de vitória laranja, foi marcado por Berghuis. 1x0.

O segundo jogo, se livre de tensão, foi o pior da primeira fase. Diante da África do Sul, a Holanda não conseguiu espaços tampouco se impor em momento algum, terminando num empate morno, 0x0.

O terceiro e último jogo da primeira fase foi diante da Turquia, que se classificou em segundo lugar no grupo holandês das eliminatórias. Com um primeiro tempo imponente, a Holanda abriu o placar com Gravenberch e depois parou na defesa turca; o segundo tempo foi praticamente administrado, evitando o risco de perder a vitória e o primeiro lugar do grupo, com 7 pontos. Em relação ao time de estreia, Luuk perdeu a vaga para Danjuma, atuando como falso nove. 1x0.

O chaveamento pareou Holanda x Escócia nas oitavas-de-final, jogo geograficamente curioso: highlanders x nederlanders. O confronto mais fácil para os cabeças-de-chave, entretanto, não correu como esperado. Os jogadores das terras altas começaram numa pressão absurda, abrindo o placar e segurando a vantagem com muita garra; a Holanda, em sua vez, pouco conseguia agir ou mesmo levar perigo ao gol adversário. O jogo fluia apenas pela esquerda, pelo raçudo Danjuma: e assim saiu o gol. Em jogo individual, achou Georginio na área para empatar o jogo. Ainda na pressão, Depay marcou o gol da virada. Com os ânimos em posições opostas agora, que o time laranja ampliou com Promes já nos acréscimos. Placar que não reflete o dificílimo jogo das oitavas. 3x1.

O desafio das oitavas foi motivador para o time entrar em campo contra o Brasil, pelas quartas-de-final. Com menos de cinco minutos de jogo, os holandeses abriram o placar com rápida infiltração de Frenkie. Depois do gol, os europeus jogaram por apenas uma bola, abdicando de sua posse (geral de 44% nos noventa minutos). E aproveitando dos erros brasileiros, Depay, Berghuis e Danjuma foram às redes e garantiram a goleada! 4x0.

Portugal foi o adversário nas semifinais - time forte em todos os setores, fez um jogo duro. Pra quem esperava de técnica dos dois lados, acabou vendo um jogo truncado, por luta de espaços. E um jogo polêmico: o gol da classificação holandesa saiu dos pés de Gravenberch, que estava milímetros à frente do penúltimo defensor, em lance tão ajustado que o VAR não foi capaz de interferir. Se as mesas redondas da noite pegaram fogo, não importou para a Holanda. 1x0.

Como o destino é irônico, 48 anos depois, a reedição da final: Alemanha x Holanda. O time alemão vinha de goleadas desde as oitavas e, além de tudo, com seis vitórias embaladas. Com base no time do Bayern, o entrosamento chegou a atordoar a seleção holandesa por boa parte do primeiro tempo - mesmo que não levando perigo à meta de Cillessen. Tranquila, a Alemanhã talvez se distraiu e, ao apagar das luzes na primeira etapa, Berghuis fez o gol em roubada de bola no campo de ataque, aos 45'+1'. Confiante, a Laranja entrou dominando a posse de bola na segunda etapa - e tão logo ampliou a vantagem com Gravenberch, novamente o talento do Ajax. Poucos minutos depois, aos 66', De Ligt foi expulso por carrinho violento em Gnabry - mas nada que mudou o jogo. Compacto e inteligente, o time holandês conduziu a partida friamente até o final. 2x0.

Dívida reparada - a Holanda é campeã do mundo!

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