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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

La alcazaba de Almería

A primeira passagem de Castro pelo Almería foi vitoriosa. O acesso de "La Liga II" para a divisão principal veio logo na primeira temporada; no ano seguinte, a conquista surpreendente e o título de "La Liga" frente a Real Madrid, Barcelona, Atleti e tantos outros sob liderança de Kaká e David Villa. E depois, o bicampeonato, com um elenco até mais simples. Relembre clicando aqui.


A troca de diretoria, em meio à fase mais gloriosa do clube, tornou tudo um sopro porém, iniciando-se na demissão de Castro do comando do clube antes do início de sua quarta temporada. A justificativa era o "fracasso europeu", denominação dada à eliminação nas quartas-de-final da UCL anterior.

A gestão, que durou 3 anos, não sustentou o brilho histórico e logo no ano de defesa do título veio o quase rebaixamento. E no ano seguinte, o rebaixamento. Ídolos como Pozo e Chuli foram vendidos frente ao caos financeiro que já estava minando o clube há anos.

No início de 2020, em meio à pandemia, um impeachment. E o surgimento de uma nova diretoria, desligada das gestões anteriores. O primeiro passo? Chamar novamente Castro para reerguer o projeto andaluz, que hoje era projetado em humildes 51,14MM.


Como uma volta às suas origens, Ricardo Castro desembarcou em Almería, na comunidade autônoma de Andaluzia. Cidade pacata e portuária, berço do sobrenome carregado pelo treinador. Guardada pela imponente alcazaba, a maior fortaleza erguida durante o domínio árabe na Andaluzia, Almería ultimamente vem crescendo como destino turístico nos últimos anos, graças ao seu legado histórico, sua posição privilegiada junto ao mar seus novos trechos urbanizados com restaurantes e bares. É tempo de finalmente se colocar no mapa espanhol como um destino futebolístico também.

[História] O primeiro acesso de Castro, há alguns anos, foi muito conturbado. Dubarbier, capitão da equipe, pediu para sair na janela de inverno. Assim como o fez Julian (goleiro titular) recusando a renovação e optando por buscar um pré-contrato na mesma janela. O elenco era simples, e foi guerreiro: Os 11, num 4-4-2 em losango: Julian; Xami Navarro, Trujillo, Morcillo e Dubarbier; Diamanka, Azeez, Jose Angel e Corona; Quique e Chuli. E dois reservas imediatos, quase titulares - Maxi Rodriguez e Pozo. Completando o elenco: Casto e Gazzaniga (goleiros), Passlack, Quintanilla, Fran Velez, Puertas, Ivan Sanchez, Iago Diaz, Fernandez, Fidel, Zongo e Juanjo.

Castro recebera desta vez um elenco mais forte. Nomes como Sadiq, João Carvalho e Robertone preenchiam o elenco, entre nomes definitivos e empréstimos. A verba para reforços era mais alta que no passado, ainda que limitada. A estratégia foi optar por nomes experientes e velhos conhecidos. Como principais nomes chegaram Claudio Bravo para o gol e Bruno Alves, veterano português para o miolo da zaga; chegaram dois velhos jogadores, Pozo (120 jogos e 47 gols) e Maxi Rodriguez (87 jogos e 11 gols), ambos com passagem na primeira "Era Castro". Por fim, a cereja do bolo: Darwin Nuñez, atacante uruguaio - ele havia sido vendido pela gestão anterior com cláusula de recompra - a qual Castro fez questão de exercer.

Com isso, o time-base era, no 3-5-2: Makaridze; Máras, Alves e Cuenca; De La Hoz; Robertone, João Carvalho, Pozo e Lazo; Darwin e Sadiq. 

Segunda rotação, no 4-5-1: Bravo; Auro, Maidana, Chumi e Centelles; Vada (Caicedo) e Petrovic; Preciado (Ramazani), Aketxe e Villalba (Appiah); Maxi Rodriguez (Balogun).

O time demorou para engrenar. Muitos gols sofridos, sistema defensivo não encaixava, tanto que no torneio de pré-temporada veio a eliminação precoce com dois empates e uma derrota, no total de sete gols sofridos.

O início da segunda divisão foi igualmente sofrido - a sorte era que Sadiq, praticamente sozinho, ia garantindo os pontos necessários para se manter no topo da tabela.

A chave foi a mudança de sistema - ao trocar o 4-5-1 tradicional pelo 3-5-2. Com quatro meias de armação e dois centroavantes ágeis, o time ganhou ritmo e saiu em disparada a partir do mês de outubro - quando goleou em três vezes diferentes por 6x0.

[Copa do Rei] O embalo, aos gols de Robertone e Darwin (3x), veio de encontro à disputa de quartas-de-final da Copa do Rei contra o Barcelona: 4x2 em Almería com show de assistências de José Luis Pozo Nas semifinais, uma roubalheira madrilenha e a derrota por 2x3 no Bernabéu. Na alcazaba, todavia, 4x2 para os mandantes e vaga na final. A final contra o Sevilla foi um péssimo jogo tecnicamente e terminou com gol chorado - e contra - do goleiro. Nada melhor que um clássico andaluz para representar a região que tanto vem se desenvolvendo. Título da Copa do Rei!

Já pelo campeonato, depois do início inconsistente, a disputa foi acirrada até as rodadas finais. Se o acesso pareceu garantido desde o início de fevereiro, o título não. A disputa foi ponto a ponto contra o Espanyol, time de Barcelona, que liderou o certame até a trigésima sétima rodada. Isso, o Almería assumiu a liderança faltando apenas cinco rodadas para o término do campeonato.

Ao fim, 102 pontos do time da Andaluzia contra 97 dos catalães. A defesa, ora facilmente combatida, encerrou como a mais eficaz, com apenas 31 gols sofridos (34 do Espanyol). O ataque, por outro lado, arrasador desde sempre: 131 tentos (contra 84 do Espanyol). Campeão de La Liga II!

A artilharia ficou dividida, com méritos, entre Sadiq e Darwin - 30 gols para cada um.

O nigeriano ainda foi o melhor passador assistente, com 22 passes para gols. Seguido de uma legião de companheiros: Carvalho - 18, Darwin - 18, Robertone - 11, Pozo, 10, Maxi - 8 e Villalba - 8. 


La Alcazaba de Almería, vista de noite

O sucesso de Castro e seus comandados reergue o Almería aonde estava antes de sua saída, entre os principais clubes da Espanha.

 A segunda divisão foi palco de novas goleadas, títulos e do, para muitos, melhor futebol do país. Por mais que a meta seja "não cair", é indissociável do DNA deste grupo a busca pelo tricampeonato -  retomar a taça que lhes fora tirada à força há alguns anos.

Na Europa League vem a chance de apagar o estigma de fracasso em terras estrangeiras e trazer taças internacionais à galeria do clube.

Mais que tudo e do que nunca, a fortaleza está reerguida. Agora não para demonstrar um domínio árabe, no qual o povo mouro colocava em ação seu plano expansionista - mas agora para defender as cores de um clube, de uma tradição, de um legado que está em reconstrução nesse trecho da península ibérica.

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