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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Um ponto

"Acredite no processo", sem dúvidas, era o lema do Almería durante a temporada; e de Castro. Acesso incrível no ano anterior, proposta sedutora para o maior clube do mundo e o sonho europeu. Uma montanha-russa de sentimentos e situações vividas, auge e depressão do futebol. Nomes que chegam, nomes que viram as costas. E uma coisa, uma linha-mestra do início ao final da temporada: o processo. Castro acreditou nele. Não conquistou tudo que esperava, mas plantou e plantou e de algum modo subsistiu ao longo de um ano. Não coletou por uma "praga" alemã ou pelo singelo conquistar de um ponto. Mas acredita, persiste - a hora chega.

[A montagem do elenco] A janela de transferência foi produtiva. Em fim de contrato com suas equipes, chegaram Marlos (Shaktar), Cesc Fàbregas e principalmente Luka Modric. O croata perdia espaço, devido à idade, na equipe de Zidane e o projeto andaluz atraiu o "ex-melhor do mundo", que chegaria para liderar o meio-de-campo.

A principal contratação em termos financeiros foi Gabi Martinelli. O jovem brasileiro, egresso do Arsenal, chegou com status de craque e futuro do Almería. Azeez, antigo jogador do clube, retornou ao clube a pedidos do treinador, muito mais maduro e pronto para contribuir em alto nível dentro do elenco.

Ainda muito dinheiro foi gasto para manter João Carvalho, autor de 26 assistências na temporada anterior. 

A saída mais dolorida foi de Pozo. O jogador que fora resgatado ao Almería, como prioridade na gestão de Castro, pediu para sair e conseguiu o Monaco como pagador de sua rescisão. Uma perda dolorida mais pela forma que pela projeção técnica. Era a perda definitiva de um ídolo. Outros atletas, praticamente desconhecidos do elenco, deixaram também o clube para abrir espaço aos jovens da base. Entre aqueles que não tiveram contratos renovados, Villalba retornou à Inglaterra e, por questões financeiras, não foi possível sua manutenção.

Muitos esforços, financeiros e de projeto, também foi feitos para manter algumas jovens estrelas em ascensão. Mesmo com propostas surreais à mesa, Darwin Nuñez optou pela permanência nos  rojiblancos e ser a sua grande referência ofensiva. 

[Real Madrid] Com sete rodadas de La Liga, Castro foi convidado a assumir a posição no Real Madrid. Por problemas pessoais, Zinedine entregaria o cargo a seu sucessor, único possível no entendimento madridista. Foi uma semana pra lá de tensa. Dirigentes da equipe foram até as instalações do Almería, buscando um acordo com a diretoria andaluz, sugerindo até uma indenização milionária pela quebra contratual - o que não era tão interessante ao clube, que via a projeção de títulos nas mãos de Castro muito mais satisfatória. Numa reunião entre todos os envolvidos, Castro declinou em prol de seu projeto, suas perspectivas e a ambição de conquistas a Champions League. Assim, Zidane permaneceu "à força" no Real Madrid.

[Time principal e estatísticas] A escalação 3-4-1-2 passou o ano tatuada nos torcedores. Nomear os 11 era como o "be-a-bá" escolar nas ruas e vilarejos da província. Makaridze; Maras, Bruno Alves e Cuenca; De La Hoz, João Carvalho, Robertone, Modric e Lazo; Sadiq e Darwin. Apenas uma mudança em relação ao time que ascendeu na temporada anterior (Pozo por Modric).


Elenco complementar: Bravo; Auro e Preciado; Akieme e Centelles; Petrovic, Maidana; Caicedo, Cesc, Azees, Navas, Marlos e Appiah; Maxi, Martinelli, Balogun e Ramazani.

Darwin encerrou o ano como principal artilheiro e assistente, respectivamente 37 e 22. Cinco atletas fizeram mais de dez gols, enquanto sete deram mais que dez passes decisivos.

Maxi Rodriguez encerrou sua carreira com 9 gols e 10 assistências, número impressionante para um jovem de quarenta e um anos. Marlos e Jesús Navas foram mais discretos em suas temporadas de despedida da carreira profissional.

[La Liga] Publicamente a ideia era se manter na primeira divisão; internamente, a briga pelo título era realidade. Desafiar os três gigantes era uma pretensão viável ao olhar de Castro. Um ponto.

Um ponto foi o que separou o Almería do título. Um ponto que Barcelona fez a mais e colocou a equipe catalã com as mãos na taça. Qualquer critério de desempate seria favorável ao clube andaluz se uma derrota tivesse sido evitada.

O aproveitamento de 79% não foi o suficiente para vencer, como raras vezes acontecera em La Liga. Mais do que isso, jamais quatro equipes terminaram tão próximas no topo da tabela, fazendo com que campanhas espetaculares como do Villarreal pareçam comuns. 

O grande problema do Almería foram os confrontos diretos contra seus rivais. Contra o Real (1x1 e 1x0), Barcelona (1x1 e 1x2) e Atleti (2x2 e 1x1). Ou seja, de dez resultados longe da vitória, metade em apenas três adversários. Cruel. E um sinal de que a evolução ainda é necessária. A maturidade ainda é necessária.

Em números, além do melhor ataque do campeonato (111 gols), individualmente vários destaques. Nuñez sagrou-se artilheiro do torneio com 29 gols, seguido de Sadiq, com 28. O uruguaio ainda foi disparado o melhor assistente, com 20 passes decisivos. Seguindo-o na tabela, apenas colegas de elenco: Mocric, Sadiq e Robertone (12) e João Carvalho (11).


[Copa do Rei e Supercopa da Espanha] Pelo segundo ano consecutivo, o clube conquistou a copa local. Desta vez sem adversários gigantes pelo caminho, a não ser o Valencia na final, numa tranquila vitória por 2x0 em pleno Mestalla. E pela Supercopa, o título veio em partida disputadíssima diante do Atleti, vitória apertada por 2x1. Eis os dois troféus do ano.

[Europa League] Em territórios internacionais, o outro golpe da temporada. O Almería fizera campanha invicta na fase de grupos, derrotando equipes tradicionais, como Aston Villa e Panathinaikos. Jogando com o quadro reserva, a confiança dos atletas e a vitrine que ensejava ao time titular fizeram Castro manter o time na fase de mata-mata. Porém à medida que a competição afunilava, a dificuldade crescia. Nas oitavas, contra o RB Salzburg, o jogo de ida em 1x1, na Alemanha, foi um lucro para os espanhóis - o jogo de volta, repleto de expectativa, foi um balde de água gelada: 0x3, fora o baile. A eliminação doeu e repercutiu muito. Era a sombra do fracasso europeu que persegue Castro no Almería. Era, entretanto, a chama para mudanças estruturais drásticas no elenco andaluz.

[O que vem pela frente...] Honestamente todos contavam com os títulos perdidos. Talvez projeções foram simplistas ou adversários subestimados. O fato é que dois títulos, em copas locais, foram frustrantes. Não era o plano, não é como Castro dirige seus times. A próxima temporada coloca tudo, absolutamente tudo, em cheque. O crescimento orgânico, a paixão reestabelecida entre clube e comunidade, tudo é incrível. Mas sendo realistas, agora, apenas os títulos importam.

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