Uma temporada com cara de Brasil...
O ano de 2024 começou muito bem para Castro e para o Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Após um 2023 invicto, campeão nacional e sulamericano, o ano seguinte era ainda mais aguardado pela torcida. Não apenas pela perspectiva de mais uma campanha histórica, mas pela plasticidade que iria aumentar em campo, com chegadas de Oscar, Danilo, Luiz Araújo e pela consistência defensiva, com chegadas de Pablo Marí, Diego Godín e Alex Telles. Até a volta do ídolo Marcelo Grohe aconteceu, fato festejadíssimo pela torcida.
Se em campo as coisas fluiam bem e, fora dele, o caixa estava mais abastecido do que nunca, uma disputa política tomava conta da mídia. Em semestre de eleição, a oposição aumentava sua influência no conselho, ameaçando a gestão atual e, consequentemente, o futebol.
O elenco não sentia nada, perfeitamente blindado por Castro e seus coordenadores técnicos. Líderes como Leiva e Fernandinho conseguiam dialogar com todos, reforçando a calma e o foco no futebol.
Entretanto, mesmo na melhor fase da história do clube, as ameaças eram de ruptura com o status quo da gestão e do futebol. Uma perspectiva de final de uma era de glória.
No campo, tudo perfeito. Nos 20 jogos do primeiro semestre, a equipe venceu todas as partidas. Faturou o torneio de pré-temporada; foi campeã da Recopa - atropelando o favorito Flamengo; venceu os jogos de grupo da Libertadores (6 vitórias e incríveis 39 gols marcados); e se consolidou na liderança do Brasileiro, com 7 vitórias.
Calleri tinha 23 gols em 16 jogos, Oscar tinha participação em 26 G+A em apenas 15 partidas. O Grêmio, meus amigos, era irresistível.
Porém, maio chegou. E mesmo contrário à vontade de toda a massa gremista, a oposição venceu - e uma nuvem preta se instaurou sobre a Arena.
Em seu primeiro dia sob nova direção, Castro foi chamado para uma reunião, onde foram expostas todas as ingerências previstas pela gestão no futebol - inclusive uma possível venda via SAF. Castro foi resistente, conseguiu ainda duas novas reuniões para debater o tema, mas perdeu força nos bastidores. E uma decisão precisou ser tomada.
Mesmo com apoio incondicional do grupo de atletas, a ruptura era inevitável. Toda a trajetória construída, na realidade, de nada mais valia... 95% de aproveitamento tornou-se um castelo de areia - Castro entregou o cargo e demitiu-se do Grêmio.
Se a carga do sul era pesada demais para Castro, um horizonte reacendeu-se no nordeste do país.
Sem técnico desde janeiro, o Fortaleza estendeu a mão e o convite, que estaria pra sempre feito, aconteceu: Castro reassumiria o Leão do Pici, para continuar aquilo que nunca devia ter terminado.
O Tricolor de Aço mantivera a base de 2022, porém o último técnico - apesar de resultados decentes - deixara a estrutura vencedora de lado. Então, era uma nova reconstrução, sem a redundância que esse termo parece ter.
Tão difícil seria o trabalho, que o primeiro jogo, ainda antes da janela de transferência, foi um desastre: derrota por 3x0 para o Atlético-MG, em Minas. Derrota que Castro não via há quase duas temporadas.
O resgate de 8 pontos, para alcançar justamente o Grêmio (21 x 13 pontos), seria árduo. E as oitavas-de-final da Libertadores, perante o Racing, sinalizavam a necessidade de reforços imediatos.
Aberta a janela de julho, logo de cara: Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense, time que (junto de Castro) não perdia há quase 20 meses. E o melhor aconteceu: 1x0, num castelão lotado, derrubou a maior invencibilidade do mundo do futebol, em gol de Matheus Pereira.
Reforços foram chegando, todos com passagens por seleção brasileira, principal ou de base: Willian pra lateral-direita, Alexsandro para a esquerda, Andreas Pereira, Fred e a chocante contratação de Roberto Firmino no último dia de janela.
Embalado numa sequência de vitórias, na 14ª rodada, o Grêmio novamente: e no Sul do país, num duelo galáctico, 0x0. Jogo tenso, marcado, com Lucas Moura perdendo pênalti em cavadinha mal batida.
A impressionante escalada seguiu. E, no campeonato, não só a força do Fortaleza era necessária, como tda a bagunça no rival porto-alegrense colaborava. Calleri virou reserva, Lucas e Fernandinho afastados... a nuvem cinza sobre o velho dono do Olímpico constratava com o tempo aberto no Ceará. Pouco antes da vigésima rodada, o Leão tomou a liderança - para não mais soltar: ao final da corrida, 65 pontos contra 59, ostentando ainda melhor ataque e melhor defesa da competição.
Pela Libertadores, Castro assumira um time classificado mas com ressalvas. Pela segunda colocação no grupo, todos os jogos de volta seriam fora de casa. Pelas oitavas, o time não sentiu a pressão e - no agregado - somou 6x3 contra o Racing de Avellaneda, time que derrotara há dois anos, na final da mesma competição. Pelas quartas, o confronto mais duro, contra o River Plate: 3x3 no Castelão e 2x1 no Monumental, com direito a virada histórica em campos argentinos. Nas semifinais, em confronto nacional, o Flamengo - combinado de 3x1, sendo um empate no renovado Maracanã.
A final, claro, contra o Grêmio. Declaradamente o último jogo de Castro pelo Fortaleza - cujo retorno era combinado apenas até o final do ano.
Em campo, o time-base deste retorno: Léo Jardim; Araruna, Danilo (Pablo), Dória e Alexsandro; Fred (Walace), Rafinha, Firmino (Moisés), Felipe Anderson e Matheus Pereira; Joelinton.
O time jogou conforme sua principal característica: marcação intensa. Aliás, o principal marcador do time é o próprio Joelinton, que teve muitos de seus gols do ano frutos de roubadas de bola.
Mesmo assim, o jogo não encaixava e o 0x0 seguiu se arrastando - apenas 1 gol havia sido marcado em 225 minutos de jogos entre Grêmio e Fortaleza desde o retorno de Castro, demonstrando todo o equilíbrio entre os elencos.
O Grêmio levava mais perigo e, com isso, confiança para avançar suas linhas e ocupar o lado cearense. Entretanto, num deslize, proporcionou o contra-ataque que Castro tanto sonhara: e nos últimos metros do campo, Alexsandro enfiou passe para Felipe Anderson, que fuzilou de esquerda para o fundo das redes. 1x0. Ele, que marcara já dois gols históricos na final da liberta de 2022, tinha sua estrela aparecendo novamente.
É campeão! O Leão da Pici recuperava a glória, conquista novamente a Glória Eterna!
Se, em 2022, a taça foi erguida por Danilo - o veterano de longínquos 40 anos cedeu a faixa de capitão ao grande líder, Joelinton, que a ergueu e justificou toda essa mudança.
Entre altos e baixos, Castro retornara para onde sempre se sentiu bem: em casa.
Por fim, nos bastidores, o treinador preparou seu sucessor: Danilo pendurou as chuteiras e assumiria imediatamente as funções de novo treinador do Fortaleza Esporte Clube.
Tricampeão brasileiro, bicampeão da Copa Libertadores.
101 jogos.
Depois das duas passagens pelo Fortaleza e a inesquecível aventura no Grêmio, Castro anunciou que buscaria uma carreira fora dos campos brasileiros. Não que o país tenha ficado pequeno, mas porque seu coração tinha apenas um dono e já estava seguindo em frente...
Que honra foi, Leão da Pici! A glória é mesmo eterna! Adeus!
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